sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

"Oferenda" - Exposição de Carolina Harari che ao MAB


A técnica é milenar mas a cada ano vem ganahando novos adeptos que buscam novas maneiras de interferencia com o material. Faz muito tempo não via uma combinação tão perfeita entre o regional e o contemporâneo. Tudo familiar e ao mesmo tempo fazendo parte de um mundo mágico onde o excesso de fragilidade traz admiração e receio.
O material é um só: o barro. Mas a artista captura elementos da cerâmica e do bordado congregando-as de uma maneira exemplar. As obras transitam entre um bordado abusando da goma, da solidez, petrificado, e uma "cerâmica textil", aparentemente maleável. Tudo é muito suave. As paredes dos jarros são tão finas que a artista não tem pudores em mostrar essa fragilidade, em expor as rachaduras. O processo de fabricação de uma peça de cerâmica é lento e extremamente delicado. Senti isso na pele nas aulas de cerâmica da Escola de Belas Artes. Com a experiência que eu passei acho que o choque com a espessura que a artista dá aos objetos é muito grande.
O uso das cores também é muito bem feito. Apenas a cor de barro e o branco, cor das rendas. Até a expografia segue essa linha, com os expositores também na tonalidade da argila. A amostra dialoga com quadros de Carybé e Pierre Verger, famosos por retratar o universo baiano, que pertencem ao acervo do Museu. Passa a impresão de que não podia ser de outra forma, não podia ser em outro lugar.


O trabalho de pesquisa da artista Carolina Harari é mais um exemplo de obra de arte resultado de pesquisa. Historiadora de formação com especialização em Arqueologia e Restauração Patrimonial, dedicou-se ao estudo da argila.
Fico feliz que os "artistas-artesões" do recôncavo estejam sendo homenageados, inspirando um trabalho serio e que isso esteja sendo tão bem apresentado. Fico pensando em D. Cadu, senhora que conheci em Coqueiros (30 km de São Felix), que ainda faz a queima em fogueiras. Nas cooperativas, em maragojipinho, nas rendeiras do São francisco. Uma das maneiras da arte ser utilitária socialmente é lembrando, valorizando, reedificando e as vezes construindo uma auto-estima que não existe ou que merece florecer mais ainda.

Um comentário:

Andrea Guim disse...

Oi, Alessandra!!
Obrigada por acompanhar o BLOG'ARTE! Seu blog é bem legal! Dei uma espiada básica, mas aos poucos vou olhando tudo! Ah! Tô querendo fazer mestrado em Museologia...
Beijins!!!