sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Hysteria




Ontem pela tarde na Fundação Instituto Feminino da Bahia foi encenada a peça "Hysteria". Não quero falar sobre a peça... Por que perderia graça se um de vocês tivesse a magnífica oportunidade de vê-la. Só posso adiantar que se passa no século XIX e que trata de mulheres da época que foram exiladas em casas de repouso por diversos motivos.

Todos os dias eu me deparo com as mulheres do século XIX a minha frente. Meus fantasmas. As roupas vazias. As bolsas que já não carregam nada. Os sapatos que com a falta de uso deformaram. As vezes em casa por minha displicencia vejo até o fantasma de mim mesma, na falta de cuidados, na desorganização, na minha autonegligência.

A peça me deixa a mensagem de que a principal vantagem que a gente tem sobre as mulheres daquela época é a liberdade de ser histérica. Eu sou histérica. Posso ser histérica em casa. Com meu namorado, com meus amigos e principalmente com minha família. Seja nos atos os nos meus pensamentos, no modo, nos modos... Eu tenho direito de externar minhas tragédias cotidianas. Eu tenho o poder de decidir a quem vou mostrar minhas lágrimas como já dizia Ana.


No meio da peça me vinha a cabeça Hilda, Clarisse, Pagu, Isadora... Mas principalmente Florbela. Nome infeliz esse que ela tinha... Florbela Espanca! Tão paradoxal. Como na peça...É como se flores pudessem quebrar pedras... Ou como flores que de tão histéricas virassem pedras... Fica aqui a poesia dela que para mim melhor traduz a experiência que vivi naquela tarde.

Cinzento

Poeiras de crepúsculos cinzentos.
Lindas rendas velhinhas, em pedaços,
Prendem-se aos meus cabelos, aos meus braços,
Como brancos fantasmas, sonolentos…

Monges soturnos deslizando lentos,
Devagarinho, em misteriosos passos…
Perde-se a luz em lânguidos cansaços…
Ergue-se a minha cruz dos desalentos!

Poeiras de crepúsculos tristonhos,
Lembram-me o fumo leve dos meus sonhos,
A névoa das saudades que deixaste!

Hora em que teu olhar me deslumbrou…
Hora em que a tua boca me beijou…
Hora em que fumo e névoa te tornaste…
(F.E.)

Um comentário:

Ramon Pinillos Prates disse...

REsolveu ativar novamente esse blog foi? Vc já não tinha postado algo sobre essa peça antes não?