quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

28ª Bienal de São Paulo



O Bienal de São Paulo que acontece até 6 de dezembro, gerou muita polêmica por ter um número reduzido de artistas em exposição. Comparado a 27ª bienal que divulgou 119 artistas essa se compôs apenas de 41, ficando conhecida como "a Bienal do vazio". O segundo andar está totalmente sem obras, ou melhor, apenas com a obra de Niemeyer. Em outro andar a aparência é de um grande playground que culmida em um tobogã colocado para se sair do edifício. Cultura e consumo entrem em embate. A curadoria resolveu aproveitar o momento de crise financeira para fazer propor uma abordagem conceitual criticando a própria Bienal.

O conceito da Bienal também está em crise. Quanto a isto não há dúvidas. Conversando com um artista amigo meu ele se referiu a idéia como uma faca de dois gumes. De um lado é bom um momento de reflexão sobre o formato da bienal, sobre seu modo de seleção e sobre a verba destinada (esse ano de somente 8 milhões, 40% menos que no ano passado). Do outro é inegável que a bienal é um espaço importantíssimo para divulgação dos artistas a nível internacional.

Eu respondi a ele que comprei a idéia da curadoria porque na atual situação em que as instituições de exposição de arte se encontram, uma faca de dois gumes é melhor do que a de uma só. Achei uma maneira criativa de enfrentar a crise, porque sem dinheiro de outra forma não poderia ser. Não acredito que a “Bienal do vazio” acaba sendo uma obra do curador Ivo mesquita e que ele seria um iconoclasta, como alguns andam falando. É uma questão conjuntural, fruto de uma gestão criativa que levou de alguma maneira à reflexão, ou seja (honestamente, materialisticamente, até marxisticamente), um problema de verba que levou a se pensar o todo. Se a idéia foi bem executada eu não sei porque infelizmente não fui a São Paulo conferir o evento, mas desfruto das discussões sobre sua polêmica e isso é um bem inegável que ecoa pelo país.
Sabe-se que o vazio na arte nunca é tão vazio assim. A ausência é tema da arte já faz algum tempo. O vazio tem muito de contestação ou de histórico e pouco de saudosista e está cheio de feridas que precisam ser cuidadas (curadas seria muita utopia).

Aqui mesmo em Salvador temos também um Museu do Vazio, pouco comentado, que espera a quase dois anos o acervo do escultor francês Rodin que nunca chega. Não que o vazio de lá me incomode, porque deixa descoberta a arquitetura da casa, as pinturas de Sercelli e o piso de parquê. Mas é outra instituição que está vazia não porque quer, mas por uma conjuntura que não favorece que os eventos aconteçam.

É tempo de repensar as políticas culturais. Alias, sempre vivemos passando desse tempo, na esperança que ele chegue.

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